Entrevista a Pedro Barciela
THE SILVER TYPE
Página 1, Segunda-feira, Setembro 23, 2024
Entrevista a Pedro Barciela
Pedro Barciela é um estudante de destaque no curso de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Fernando Pessoa, reconhecido pelo seu rigor acadêmico e aprofundado conhecimento sobre política global e diplomacia. Com uma sólida formação teórica e prática nas áreas de geopolítica, governança e análise internacional, Pedro tem se dedicado a compreender os complexos desafios do cenário político contemporâneo, refletindo sobre as dinâmicas de poder e as suas repercussões globais. Nesta entrevista, ele compartilhará insights sobre a sua trajetória acadêmica, os principais temas de interesse na sua área de estudo e as suas perspectivas sobre o futuro das relações internacionais no contexto atual.

Estrela: Foi sempre a sua primeira opção estudar Ciências Políticas e Relações Internacionais?
Pedro Barciela: Não, inicialmente a minha intenção era estudar apenas Ciência Política e História. Sempre tive uma grande paixão por História, mas optei por não seguir essa área porque é muito específica e as saídas profissionais são complicadas. Ciência Política, por outro lado, é mais abrangente, englobando várias áreas, incluindo História. Quando descobri o curso de CPRI na Universidade Fernando Pessoa, vi que era uma boa opção, pois unia duas áreas que se interligam. Estava bastante apreensivo, principalmente por ser em plena pandemia. Em junho, a minha mãe não conseguia arranjar trabalho e sugeriu que eu aproveitasse o tempo para fazer um curso, formação ou até um part-time. No entanto, não consegui encontrar trabalho, então comecei a procurar cursos. O que mais me chamou a atenção foi um curso de técnico auxiliar de farmácia, que durava cerca de um ano. Inscrevi-me sem grandes conhecimentos sobre medicamentos, foi uma decisão um pouco às cegas.
Estrela: Na época, tinha que idade?
Pedro Barciela:Tinha 17 anos.
Estrela: Então terminou o ensino secundário mais cedo?
Pedro Barciela: Sim, fiz um curso profissional, o que fez com que o meu curso terminasse em fevereiro, pois, ao contrário do ensino regular, tivemos aulas durante os meses de junho e julho, e apenas o mês de agosto de férias. Por isso, terminámos em fevereiro.
Estrela: Que duração teve esse curso?
Pedro Barciela: A parte teórica do curso durou cerca de 9 meses, e o estágio foi de 2 a 3 meses, num total de 120 horas.

Estrela:Você optou por estagiar numa farmácia. Poderia descrever as suas atividades e responsabilidades durante o estágio?
Pedro Barciela: Fui responsável pelo backoffice da farmácia, ou seja, pelas encomendas de medicamentos, o que o público não vê. Quando as pessoas compram medicamentos, é necessário repor o stock, por isso, fazíamos encomendas a distribuidoras como a Coprafar ou a Dentifarm, que chegavam no dia seguinte de manhã. Eu recebia as caixas, registava a entrada dos medicamentos, armazenava-os e organizava as reservas. Também cuidava do receituário, organizando as receitas, principalmente as de empresas estatais como a ADS e o SNS, verificando se os medicamentos vendidos correspondiam às prescrições. Além disso, fazia a gestão das datas de validade, devolvendo ao distribuidor os medicamentos próximos da expiração.

Estrela: O estágio era remunerado?
Pedro Barciela: Não, não foi.
Estrela: Nessa época, quando estava a estagiar nessa área, tinha como antever que iria acabar no curso em que está atualmente?
Pedro Barciela: Não, quando estava a estagiar, queria continuar na farmácia. No entanto, percebi que o curso de técnico auxiliar de farmácia não oferece muitas perspetivas de carreira a longo prazo. É um trabalho de entrada, com um limite salarial que começa no salário mínimo e, mesmo com a progressão, dificilmente ultrapassa os 1000 euros. Muitas pessoas usam este curso como uma base para depois seguirem para a farmácia ou o mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas. Ou, então, é uma opção para pessoas mais velhas que querem reentrar no mercado de trabalho.
Estrela: Chegou a conviver com pessoas mais velhas no curso?
Pedro Barciela: Não. O curso foi inicialmente online, devido à pandemia, e só tinha uma colega de turma.
Estrela: Acabou por desistir ou concluir o curso?
Pedro Barciela: Concluí o curso e fiz o relatório final. Depois, entrei no curso de Análises Laboratoriais na Universidade Fernando Pessoa, mas só fiquei dois meses. A matemática e a química envolvidas não eram para mim, apesar de até gostar da parte prática. Acabei por desistir e decidi focar-me numa área mais ligada à História.
Estrela: Sempre pensou que poderia estudar na Universidade Fernando Pessoa?
Pedro Barciela: Sim, porque Ciência Política era uma das áreas que me interessava e esta universidade oferecia um plano curricular que me atraía. Cheguei a considerar outras opções, como a Lusófona, mas não me pareceram tão adequadas. Além disso, a minha mãe também está a estudar na Universidade Fernando Pessoa, em Medicina Dentária, o que me deixou mais familiarizado com a instituição.
Estrela: O trabalho na farmácia exigiu muita responsabilidade. Sente que essa experiência o preparou para lidar com questões como as políticas de saúde?
Pedro Barciela: Sim, trabalhar numa farmácia exige bastante atenção e responsabilidade. Essa experiência ajudou-me a compreender melhor o setor da saúde e as suas regulamentações, especialmente a nível de medicamentos. A Infarmed, por exemplo, gere o setor farmacêutico, e percebi o quanto é complexa a abertura de uma farmácia, desde a necessidade de concorrer a licenças até ao cumprimento de vários requisitos técnicos e logísticos. Esta burocracia deu-me uma perspetiva mais clara sobre a regulação e o impacto das políticas de saúde.
Estrela: Os seus colegas de trabalho tinham que tipo de formação?
Pedro Barciela: Na farmácia onde estagiei, a maioria dos colaboradores tinha formação superior. Como era uma farmácia pequena, eles preferiam contratar farmacêuticos e técnicos de farmácia, porque tinham competências que eu, como auxiliar, não tinha, como administrar vacinas ou fazer piercings nas orelhas.
Estrela: Sentiu algum tipo de discriminação por essa diferença de formações?
Pedro Barciela:Não, pelo contrário. Os meus colegas foram sempre muito prestáveis, e posso dizer que a experiência na farmácia do Viso foi bastante positiva.
Estrela: Na área académica, mencionou que também tem um background musical. Pode explicar essa experiência?
Pedro Barciela:Sim, fiz um curso de música financiado pela Câmara do Porto, através de um programa chamado “Música para Todos”. Esse programa proporcionava aulas e instrumentos a escolas públicas de áreas necessitadas, como o bairro do Viso, onde moro. Fiz o curso de trompete na escola de música Silva Monteiro, onde atingi o quinto grau de trompete. Além disso, participei numa orquestra, tive aulas de formação musical e até integrei um coro nos primeiros dois anos.

Estrela: Como foi o processo de progressão nesse curso de música?
Pedro Barciela:No final de cada período, tínhamos um exame e uma audição. O exame consistia numa apresentação individual diante de três professores, onde tinha de tocar uma escala, um estudo e uma peça. A audição, por outro lado, era uma apresentação pública para pais e professores, onde tocávamos sozinhos e depois em conjunto com a orquestra. Integrava a Orquestra de Bonjóia, composta por alunos de várias escolas do programa, como a Escola do Cerco, Resende, a Escola do Viso, e também por alunos da Escola de Música Silva Monteiro, que frequentavam o curso de forma paga. Todos nos reuníamos para formar a orquestra.
Estrela: Chegou a fazer muitos espetáculos?
Pedro Barciela:Sim, fiz vários concertos, incluindo no Rivoli, em Gondomar, Gaia, entre outros locais. Normalmente, no final do ano letivo, em junho ou julho, tínhamos uma série de ensaios e concertos até ao início de agosto.
Estrela: E como é que vê essa ideia de destaque digamos, porque os exames que fazia era sozinho versus o espirito de equipa que tinha na banda.
Pedro Barciela:Sim, havia uma grande diferença. Tocar em orquestra era mais confortável, porque se cometesse um erro, dificilmente seria notado. Já tocar sozinho era mais tenso, especialmente diante de pais e professores. No entanto, a pressão maior vinha dos exames, onde tínhamos de nos destacar para passar de grau.


Estrela: Acha que a arte no geral pode ser uma ferramenta para uma mudança política?
Pedro Barciela:Sim, pode. A música teve um impacto enorme em mim, tanto positivo como negativo. As aulas de música traziam bastante stress e pressão, o que, por vezes, se tornava difícil de suportar. Havia situações que hoje muitos considerariam abusivas — não sei se conhece o filme "Whiplash", não era tão extremo como no filme, mas por vezes havia muitos gritos, e éramos apenas jovens, entre os 10 e os 15 anos. Na altura, não era uma disciplina que se estudava ocasionalmente, tocar um instrumento é como aprender uma nova língua: é preciso praticar todos os dias para aperfeiçoar. Tínhamos uma aula individual por exame, e todos ficávamos nervosos porque nunca sabíamos como iríamos tocar. Por um lado, foi uma experiência positiva, deu-me grandes aprendizagens e agora consigo "falar" uma das duas línguas universais — a música, sendo a outra a matemática, que é igual em todo o mundo. Além disso, tive várias experiências culturais, pois toquei diferentes estilos, desde música clássica, música africana tribal e jazz, o que me deu uma visão abrangente de culturas diversas. No entanto, as experiências negativas também me marcaram. Quando fiz o exame final que me concedeu o quinto grau, senti um enorme alívio, porque já não teria de lidar com aquela pressão constante. Naquela altura, precisava de estabilidade.
Estrela: Sente falta de tocar?
Pedro Barciela:Sim, sinto que definitivamente devia ter feito as coisas de forma diferente naquela altura. Gostaria de ter estudado mais e ter-me aplicado melhor. Se voltaria a tocar? Não sei, neste momento não, pois estou focado na faculdade, mas talvez no futuro considerasse voltar a integrar uma orquestra ou uma banda. Já me passou pela cabeça. Provavelmente seria um bom elemento, dado que a trompete é um instrumento difícil de tocar e ainda mais difícil de dominar. A tuna seria algo interessante, sim, mas neste momento não faria sentido para mim, a nível pessoal.
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