Entrevista a Sara Fufezan
THE SILVER TYPE
Página 1, Segunda-feira, Setembro 23, 2024
Entrevista a Sara Fufezan
A jovem Sara Fufezen, estudante de Ciências Políticas e Relações Internacionais, partilha connosco a sua jornada académica, que começou por uma paixão pela Psicologia e evoluiu para uma abordagem mais abrangente nas Relações Internacionais. Nesta entrevista, realizada via Zoom, Sara com a clareza de quem está determinada a fazer a diferença, discute as razões que a levaram a escolher a sua área de estudo, a influência da sua herança cultural romena, e os desafios que enfrenta enquanto se prepara para uma carreira que combina Psicologia com Política e Segurança Internacional.

Estrela: Para começarmos, o que a motivou a seguir uma carreira em Ciências Políticas e Relações Internacionais?
Sara Fufezan: Inicialmente, pensei em escolher Psicologia, mas os meus pais aconselharam-me a seguir uma área com mais possibilidades de emprego no futuro. Assim, fui refletindo e acabei por optar por Relações Internacionais, que me pareceu uma boa vertente. No entanto, não tinha média suficiente para entrar na universidade pública no curso de Línguas e Relações Internacionais. Pesquisei alternativas, incluindo a Universidade Portucalense, e, eventualmente, a minha última opção foi este curso de Ciências Políticas e Relações Internacionais. Apesar de não ser fã da política em si, a componente de Relações Internacionais sempre me interessou e, hoje, acredito que fiz uma boa escolha.
Estrela: Mencionou que a sua opção inicial seria Psicologia. Porquê?
Sara Fufezan: Sempre fui fascinada por compreender a mente das pessoas e por que agem da forma que agem. Sempre quis ler livros especializados no desenvolvimento neurológico, mas, infelizmente, não segui essa vertente. No entanto, continuo a gostar de ver documentários e séries relacionadas com a área.
Estrela: Já leu algum livro de Psicologia? Se sim, qual?
Sara Fufezan: Há um livro bastante famoso chamado "As 48 Leis do Poder", que fala sobre como alcançar aquilo que queremos, explicando como entender as pessoas para conseguir algo de forma saudável, sem recorrer à manipulação. Tentei ler uma trilogia chamada "Psicologia Negra", que aborda como e por que as pessoas manipulam, mas, infelizmente, ainda não terminei a leitura.

Estrela: Fazendo uma ligação dessa curiosidade pela Psicologia com o curso em que está agora, está a par da medida que visa oferecer apoio psicológico e nutricional gratuito aos alunos. O que pensa sobre isso?
Sara Fufezan: Acho que essa medida é bastante ineficaz. Sei de casos em que as pessoas procuraram ajuda, mas o sistema não funcionou. Se quiserem implementar essa medida, seria necessário garantir que, quando os alunos precisarem, tenham acesso imediato ao apoio, e que não precisem de esperar anos por uma resposta. Conheço um caso em que um estudante enviou um email à psicóloga da universidade para pedir ajuda e nunca obteve qualquer tipo de resposta.
Estrela: Em que medida o conhecimento sobre Psicologia pode contribuir, por exemplo, para negociações diplomáticas ou relações internacionais? Acha que a compreensão da natureza humana tem um papel importante?
Sara Fufezan: Inicialmente, pensei que todos os cursos de Ciências Políticas deveriam ter uma unidade curricular de Psicologia, porque é necessário entender por que as pessoas agem de determinada forma. Se tivéssemos esse conhecimento, acredito que muitos conflitos não existiriam. Às vezes, basta uma má interpretação de uma palavra para se criar um conflito. A Psicologia seria, e será, benéfica se fosse implementada de forma adequada.
Estrela: Antes de termos iniciado esta entrevista mencionou a sua herança romêna, algo pelo qual tem muito orgulho. De que forma essa herança influencia a sua visão sobre política e relações internacionais?
Sara Fufezan: Nasci em Portugal, mas toda a minha família é romena. A herança não é tão presente no meu dia a dia, embora ouça sempre os meus pais a comunicarem em romeno. Apesar de entender, tenho alguma dificuldade na comunicação verbal. No entanto, vejo vantagens em falar uma língua diferente da nossa língua materna. O romeno é muito semelhante a várias línguas, como o italiano, francês e espanhol, pois todas provêm do latim. Respondendo à questão, julgo que a minha herança não influencia significativamente a minha perspetiva. Diariamente, vejo o meu pai a ver notícias romenas, mas, como a minha mãe diz, muitas vezes não vale a pena assistir às notícias, pois são demasiado focadas em tragédias. Nos canais romenos mais vistos, há pouco enfoque na política, sendo mais comuns os temas sobre catástrofes.
Estrela:Quais são as diferenças que sente entre os dois países?
Sara Fufezan: Muitas vezes, as pessoas acreditam que a Roménia é um país muito pobre, o que não corresponde à realidade. Apesar do património histórico e cultural estar por vezes associado à etnia cigana, a Roménia tem uma riqueza histórica e cultural fascinante. Os seus monumentos são impressionantes. Apesar de ser vista como uma das nações mais empobrecidas da Europa, a Roménia demonstra que isso não é verdade. Inclusive, muitos políticos portugueses, como os do partido Chega, mencionam a Roménia em debates como um exemplo que se tem demonstrado cada vez mais a nível internacional.
Estrela:Existe algum aspeto da história ou cultura romena que considera frequentemente mal compreendido internacionalmente?
Sara Fufezan: Sei que os meus pais, por vezes, enfrentam uma certa discriminação, não chamaria racismo, mas uma diferença de tratamento. Quando dizem que são romenos, há quem pense que são ucranianos. Já me perguntaram se eu tinha etnia cigana, o que é errado assumir. A etnia cigana surgiu nos Balcãs; em romeno, ciganos são chamados de "romanis", termo que também significa "romenos". Já visitei várias vezes a Roménia e, de facto, existe essa etnia, mas não há uma interação próxima entre eles e a população em geral, o que gera preconceito quando afirmamos que somos romenos. O meu pai costuma dizer que em Portugal também existe um forte multiculturalismo, existem muitos indianos, brasileiros e muçulmanos, e isso não significa que a cultura portuguesa se baseie nas culturas que existem no país.
Estrela:Tem algum monumento histórico de referência?
Sara Fufezan: Sempre quis visitar o Castelo do Drácula, pois é um marco da cultura romena. A história do Drácula é verdadeira, e muitas pessoas não sabem disso. Gostava de visitar o local para poder partilhar essa experiência.
Estrela:Acha que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia está a afetar a Roménia?
Sara Fufezan: No início do conflito, muita gente perguntou aos meus pais sobre o nosso bem-estar, porque a Roménia está próxima da área de conflito. Sei que houve certas implicações económicas, mas atualmente não se ouve muito falar do impacto na Roménia, pelo menos nas notícias que vejo com o meu pai. Curiosamente, ouço mais sobre este conflito em Portugal, apesar da distância geográfica.
Estrela: Como última pergunta,quais são os seus objetivos futuros na área de Ciências Políticas e Relações Internacionais?
Sara Fufezan: No primeiro ano, tinha receio de não saber o que fazer no futuro, pois muitos dos meus colegas falavam sobre trabalhar na Assembleia da República ou no Parlamento, mas eu não me identificava com essa vertente. Quando descobri a área de Segurança Internacional, surpreendi-me, pois é onde vejo a Psicologia e as Relações Internacionais a conjugarem-se. A segurança internacional envolve compreender as razões e origens dos conflitos, o que tem tudo a ver com Psicologia. É importante referir o soft power, pois persuadir uma pessoa requer entendimento psicológico, diferente do uso do hard power. Por isso, acredito que a Segurança Internacional consolida as áreas que mais gosto.
Comentários
Enviar um comentário